E SE DE REPENTE OUTRA VOZ

E a mulher sentou-se tal como foi determinado e após ela outras chegaram, mães anónimas de lábios vazios, perdidos que tinham todos os alfabetos. À sua direita uma mulher franzina dizia baixinho por entre os lábios como se apenas falasse consigo mesma e nada mais existisse para lá da sua enorme dor «Acusaram-na de feitiçaria e vieram buscá-la. Era apenas uma criança e acabou queimada na fogueira. Quando fui pelo corpo só restavam as cinzas mas eu não sabia se o que eu tinha entre os dedos era madeira ou os braços e as mãos da minha filha». A mulher que ainda não existe tem o olhar desfigurado e não se veste como as outras mulheres e tudo o que disser será um estranho dialecto que alguém terá que traduzir, palavra por palavra. E é agora mesmo que a mulher começa a falar.