DAFNE E FANTASIAS

Estas palavras de Gonzalo Torrente Ballester constituem a súmula de Dafne e Fantasias, tentativa de autobiografia (poética) parcial, empreendida quando o autor, dobrado o cabo dos setenta e jubilado como professor dos liceus, pôde enfim escrever.

O livro alterna imaginação e recordações como se o passado se tivesse cindido em duas vidas que acabassem por ser uma única, apenas separadas pela presença, etérea e real ao mesmo tempo, de Dafne, a do título, imagem permanente que revela a “medida do mistério”.

A fantasia e a matemática, Orfeu e Eurídice, marinheiros de uniforme e mendigos em tropel: tudo isso e muito mais perpassa por estas páginas às vezes simples, às vezes barrocas; fortemente líricas ou fortemente intelectuais, sempre irónicas e algo melancólicas. Ao longo do livro tenta-se, com o autor, alcançar Dafne. Mas ela não se encontra no mundo da realidade nem no da ficção, porque pertence a ambos. O seu lugar situa-se na estreita e mágica faixa que separa a literatura da vida.